365 DIAS DE INVESTIGAÇÃO

A vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes (foto) são executados a tiros em torno das 21h30 no bairro do Estácio, na região central do Rio, após deixarem um evento no local. Uma assessora de Marielle que estava no mesmo carro fica ferida por estilhaços, mas escapa com vida.

Imagens obtidas pela polícia mostram um Cobalt prata com placa clonada parado em frente ao local do evento. Os três homens no interior do carro aguardaram por duas horas a saída da vereadora.

TV Globo divulga que uma pistola 9mm, calibre de uso restrito no Brasil, foi usada no crime. As balas são do lote UZZ18, vendido à Polícia Federal (PF) em 2006 e ligado a outros crimes. Raul Jungmann, então ministro de Segurança Pública, diz que balas foram roubadas "anos atrás" na sede dos Correios na Paraíba. Os Correios dizem não ter registro disso.

O portal G1 apura que cinco das 11 câmeras da Secretaria de Segurança no trajeto da vereadora estavam apagadas no momento do crime. O jornal Extra diz que elas foram desligadas entre 24 e 48 horas antes.

Após duas semanas de manifestações pedindo a solução do crime (na foto, manifestação ocorrida no dia 18 na favela da Maré), o General Richard Nunes, então secretário de Segurança Pública do Rio, diz à Globonews que assassinato foi "crime político", motivado pela atuação de Marielle.

O líder comunitário Carlos Alexandre Pereira Maria, o Cabeça, é morto a tiros na Taquara, na Zona Oeste do Rio. Ele era colaborador do vereador Marcello Siciliano (PHS), posteriormente apontado por uma testemunha como mandante do crime, e teria envolvimento com uma milícia.

Laudo mostra que Marielle morreu com quatro tiros no lado direito da cabeça. Anderson foi atingido nas costas por três balas. Fragmentos de digitais em nove cápsulas achadas na cena do crime são insuficientes para identificar os autores dos disparos.

A TV Record apura que a arma usada no crime foi uma submetralhadora HK MP5 usada por forças especiais do Rio. A reconstituição do crime (foto) confirma o uso da arma. A Record diz ainda que o carro em que estavam Marielle e Anderson foi deixado no pátio da delegacia sem cuidados especiais e que seus corpos não passaram por raio-x porque o Estado estaria sem equipamento.

O policial militar Rodrigo Ferreira aponta o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o ex-policial Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando de Curicica (foto), preso por chefiar a milícia de Boiúna, como mandantes do crime. Ações comunitárias de Marielle teriam interferido em interesses de milicianos. Ambos negam as acusações.

Thiago Bruno Mendonça, o Thiago Macaco, é preso, acusado de matar Cabeça. Ele foi apontado por uma testemunha como um ex-miliciano ligado a Orlando de Curicica e acusado de ser o responsável por clonar a placa do Cobalt prata usado na execução de Marielle.

Manifestações continuam marcando aniversários da morte de Marielle e Anderson e pedindo respostas (na foto, manifestação em 12 de julho no centro do Rio).

O policial militar reformado Alan de Morais Nogueira, o Cachorro Louco, é preso suspeito sob a acusação de participar da milícia de Orlando de Curicica. Ele é suspeito de ser um dos ocupantes do carro dos atiradores.

A TV Globo apura que os deputados estaduais Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi (fotos), todos do MDB, passam a ser investigados. Os três estão presos, acusados de terem recebido propinas de empresas de ônibus. Eles teriam se envolvido na morte de Marielle como retaliação ao hoje deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que liderou uma ação para barrar a posse de Albertassi no Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Eles negam as acusações.

Raul Jungmann sugere que a PF assuma a investigação, mas sugestão é rejeitada pelo Gabinete de Intervenção e pelo MP-RJ. Quatro dias depois, a promotoria estadual volta atrás e aceita a colaboração.

Orlando de Curicica denuncia à PGR que estaria sendo coagido pela Delegacia de Homicídios do Rio a assumir a execução do crime. Segundo o jornal O Globo, ele diz que Marielle e Anderson foram mortos pela milícia Escritório do Crime, que a execução teria custado R$ 200 mil e que, embora saiba quem matou a vereadora, desconhece a motivação dos criminosos.

O MP-RJ diz ter identificado características físicas do atirador e novos locais por onde circulou o carro usado pelos executores. Não são divulgados detalhes.

A Polícia Civil cumpre mandados de prisão em 15 endereços no Rio e em Minas Gerais contra integrantes de milícias, alguns deles suspeitos de participar do crime. É a primeira operação de prisão ligada à morte de Marielle e Anderson.

Cinco suspeitos são presos, entre eles o major da PM Ronald Pereira Alves, o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, ambos apontados como chefes da milícia Escritório do Crime, e o tenente reformado Maurício Silva da Costa, que seria chefe da milícia de Rio das Pedras. Todos negam envolvimento no crime.

A principal linha de investigação, de que Orlando de Curicica e Marcelo Siciliano (foto) seriam os mandantes do crime, perde força após apuração feita por uma força-tarefa da PF, segundo o jornal O Globo. A PF apura possíveis ações para dificultar as investigações.

Polícia civil e promotores do MP-RJ prendem dois suspeitos da morte de Marielle e Anderson. Ronnie Lessa (foto à esq.), policial militar reformado, teria sido o autor dos disparos que mataram a vereadora e o motorista. Élcio Vieira de Queiroz (foto à dir.), ex-policial militar, estaria dirigindo o Cobalt prata.